As principais megatendências e os impactos para o mundo, as sociedades, organizações e indivíduos
Neste artigo não pretendemos ser conclusivos nem tão pouco propagadores de um alarmismo entre as pessoas e empresas, outrossim demonstrar que a vigilância ao ambiente externo e interno de negócios pode ser uma valiosa fonte de “Vantagem Competitiva” ou decretar o fim da competitividade.
Olha-se para a história, nota-se que uma série de organizações de porte significativo, líderes em seus mercados, perderam muito da sua “competitividade” ou até mesmos desapareceram por não serem capazes de perceber as tendências do futuro que se colocavam àquele momento e acabaram por naufragar na história.
Uma conhecida citação, equivocadamente atribuída a Charles Darwin, mas cujo autor foi o professor de Administração e Marketing da Louisiana State University, Leon Megginson – 1963: “According to Darwin’s Origin of Species, it is not the most intellectual of the species that survives; it is not the strongest that survives; but the species that survives is the one that is able best to adapt and adjust to the changing environment in which it finds itself.” Em uma tradução livre e simplificada diz: “Não é o mais inteligente, nem o mais forte quem sobrevive, mas sim o que se adapta melhor”.
Se olharmos para o mundo corporativo essa frase “cai como uma luva”, afinal podemos citar um sem número de empresas que sucumbiram a ela, como algumas aqui listadas:
Kodak – Perdeu sua competitividade para câmera digital, que ela mesmo inventou em 1975 e “mandou o chefe do departamento de pesquisa e desenvolvimento esquecer, pois iria quebrá-la”
Olivetti – Substituída pelos computadores, líder mundial em máquinas de escrever e tinha a “faca e o queijo” nas mãos para migrarem para esse mercado
Nokia – Foi expulsa do segmento de celulares, pelos smartphones, e antes era a líder absoluta em celulares e que simplesmente ignorou o potencial de crescimento
Blackberry – Perdeu sua competitividade para os smartphones com telas sensíveis a toque e teclado virtual. Líder absoluta em smartphones com teclado físico simplesmente não foi capaz de entender e migrar para os que possuíam telas maiores, sensíveis a toque e com teclado virtual, que apareciam e desapareciam quando não se faziam necessários e com isso disponibilizaram uma tela muito maior para o usuário.
Enfim poderíamos escrever esse artigo inteiro apenas listando centenas de empresas que foram míopes e não conseguiram aproveitar as oportunidades que estavam à frente dos seus olhos.
Justamente por isso que é tão importante para todas as organizações e executivos terem consciência das megatendências e seus impactos iminentes nos mercados, sociedade e empresas.
As 7 principais megatendências são:
- Impressão 3D
- Inteligência artificial
- IoT – Internet das coisas
- Conectividade, redes e mídias sociais
- Economia compartilhada
- Sustentabilidade
- Transformação digital
Vamos explorar cada uma delas e os impactos imediatos que elas já estão gerando no mundo.
1. Impressão 3D
Se você fizer uma busca rápida na internet, facilmente você irá achar diversos vídeos e artigos que mostram casas sendo construídas via impressão 3D em prazos curtíssimos, impressão de próteses de mãos, pernas e dentárias, entre outras peças sobressalentes para máquinas e equipamentos, comida, etc., etc., etc..
Gostaríamos de chamar a atenção que muito provavelmente um percentual significativo dos transportes de containers no mundo poderia ser eliminado hoje em dia, apenas pela substituição da produção “tradicional” em fábricas e toda a sua cadeia de valor subsequente pela impressão 3D local.
Vamos a um exemplo prático. Suponhamos que como consumidores estejamos precisando comprar talheres de aço inox. Como funciona essa cadeia de valor hoje em dia, de acordo com a figura abaixo:
Acredita-se que em um futuro muito próximo haverão empresas de serviço de impressão 3D que estarão localizadas de forma altamente descentralizadas nas cidades, onde muito provavelmente do seu celular ou computador ponderar-se-á encomendar 3 pares de talheres. Talvez, quando terminássemos de escrever esse artigo um rapaz ou uma moça de bicicleta já teriam deixado nossos três pares de talheres em nossa portaria.
Pergunta-se: O que irá acontecer com toda a cadeia descrita acima?
Pode-se especular que esta simplesmente poderá desaparecer! Portanto, se fossemos CEO de qualquer uma das empresas acima, desde já deveríamos colocar as barbas de molho, e começar a pensar em como adaptar nosso negócio a esta realidade, que muito provavelmente irá acontecer. Veja que não é uma questão de “se”, mas sim de “quando”?!
Poderiamos pensar em montar uma empresa de impressão 3D? Que tal fornecer a logística para a matéria prima da impressão 3D? Começar a vender licenças de impressão de talheres?
Como vocês podem notar, quando uma porta se fecha, outras se abrem, cabendo a nós empurrarmos a porta que está se abrindo, entramos na nova sala e ocuparmos o nosso espaço nesta nova sala ou mercado que está criando a demanda.
2. Inteligência artificial
Inteligência artificial é simplesmente uma programação de computador que faz com que as máquinas aprendam e guardem os aprendizados passados para usar no futuro, através de algoritmos que são capazes de conectar informações e rastrear bases de dados.
É justamente por isso que você já deve ter lido que num futuro próximo, 90% dos advogados poderão ficar sem trabalho, ou que uma máquina terá condições de dar um diagnóstico de câncer muito mais preciso do que médicos especialistas no assunto. Esses médicos, muito provavelmente, já enfrentaram aquele tipo de câncer algumas centenas de vezes, enquanto a máquina irá rastrear esses mesmos tipo de câncer, e seus prognósticos com melhores resultados em questões de segundos apresentando as melhores opções de tratamento totalmente fundamentadas em histórico, com uma precisão e velocidade incomparável ao seu humano.
Mas quando pensamos nossa vida atual, em nossa empresa, surge a dúvida, como essa inteligência artificial poderia impactar os meus negócios?
Experimentamos um caso prático com um certo cliente. Trata-se de uma empresa cujo modelo de negócio é a venda de programas de assinaturas. Essas assinaturas são semelhantes a um serviço de “streaming” como das empresas Netflix, Spotify, ou até mesmo o nosso “Sem Parar”. Esta empresa faz adesão a um plano que inclui uma cobrança mensal, geralmente através de débito em um cartão de crédito, mas há também opções de débito automático na conta corrente do banco, em contra partida tem direito a usar os serviços da empresa.
Contudo, invariavelmente, alguns clientes trocam de cartão de crédito, ou estes expiram, ou os clientes mudam de conta corrente, resultando em uma impossibilidade da mensalidade ser cobrada, por consequência o serviço é suspenso, e o cliente desta empresa passa a ser categorizado como “cliente inativo”.
Até pouco tempo atrás, essa empresa tinha uma área com aproximadamente 30 pessoas que passavam o dia ligando para os clientes em “débito”, ou inativos por falta de pagamento. Ora sabia-se que muitos clientes, não necessariamente gostariam de deixar de serem clientes ativos, mas que por simplesmente não se darem conta de que com as alterações dos seu “meio de pagamento” dos serviços, sem as devidas atualizações junto a empresa, o serviço seria suspenso e eles passariam a categoria dos inativos.
Preocupados com o indicador de “churn rate” ou taxa de saída de clientes ativos, há alguns meses eles começaram um projeto piloto com um fornecedor para desenvolver uma solução para que esse problema fosse evitado. A solução proposta foi construída de forma a automatizar a ação e para isto a ferramenta escolhida foi um robô ou “chat bot” (robôs para fazer conversas por escrito) com inteligência artificial.
Esse sistema envia, recebe e responde mensagens por SMS e Whatsapp e de acordo com a resposta do cliente ele interage, com objetivo de sanar o débito em aberto, que pode ser através de um depósito, registro de uma nova conta corrente para o débito ou de um novo cartão de crédito. Esta empresa reduziu a necessidade de pessoas nesta área de cobrança para aproximadamente 1/3. As outras pessoas poderiam ser aproveitadas em outras áreas onde a interação humana ainda é mais eficiente e menos previsível, como vendas de novas assinaturas ou serviços ao cliente. A riqueza deste exemplo está em mostrar a real possibilidade de uma pequena empresa fazer uso da “Inteligência Artificial”, que aqui, foi adotada para solucionar este problema, mas que permite ao “robô” aprender sobre o que os clientes dizem e como agem, antecipando outras situações.
Recentemente experimentamos o uso deste serviço com uma conhecida empresa de seguros, que oferece aos segurados os serviços de manutenção doméstica, mesmo que sua apólice seja para o seguro de um veículo. Abrimos o chamado, agendamos e recebemos a confirmação com a senha de segurança em menos de 5 min, e após o serviço concluído respondemos a pesquisa de satisfação, sem trocar uma palavra com um humano.
Esses exemplos são apenas alguns dos milhares de exemplos que podemos achar por aí, e em nossa opinião isso é apenas o começo dessa história da aplicação da inteligência artificial nos processos.
Como publicado em diversos artigos, provavelmente tudo que for baseado em um processo repetitivo e sistemático poderá ser substituído pela inteligência artificial.
Fica aqui então a provocação para você avaliar o seu negócio, e perguntar-se: Como posso melhorar meu negócio adotando essas ferramentas de inteligência artificial? Meu negócio irá existir como é hoje? O que posso enxergar de tendência no meu segmento?
Imaginemos que somos uma empresa que vende serviços de Call Center, será que no futuro as PA’s (posições de atendimentos) serão “pilotadas” por pessoas?
3. IoT – Internet das coisas
Todos já devem ter lido que cada vez mais tudo, ou mais precisamente “as coisas” estarão conectas à internet. Mas qual será o real impacto disso?
Vamos referir uma história que um dos VP’s da Intel company contou há algum tempo e que depois foi confirmada por um cliente que atua no agronegócio.
Esse VP da Intel disse: “Que eles tinham um piloto para conectar a agricultura à internet, onde entre tantas coisas eles iriam “chipar” as plantações”. Em outras palavras, isto significa que se fossemos a uma fazenda de café, cada um dos pés de café teriam um chip conectado à internet que transmitiriam informações em tempo real a respeito daquele pé de café específico.
Só para se ter uma ideia, hoje em dia como não se sabe qual pé de café poderá estar infectado com uma praga, despeja-se defensivo agrícola a granel, ou seja, em todo o cafezal.
“Quando eu tiver meus pés de café conectados, eu saberei com exatidão qual pé está infectado ou prestes a ser infectado por uma praga e eu tratarei apenas aquele pé e os que estão à sua volta”.
Isso poderá representar uma transformação no cultivo, seja pela redução dos custos dos insumos, seja pelas propriedades saudáveis que poderá se entregar ao mercado. Além disso pode-se imaginar o impacto que haverá na indústria dos defensivos agrícolas. O potencial de impacto estará em toda a cadeia produtiva do setor.
Um outro dia, conversando com um cliente que atua nesta indústria do agronegócio, esse confirmou sobre casos “pilotos” já sendo avaliados em algumas plantações conectadas à internet.
Novamente, o exemplo acima é apenas um dos que demonstram os possíveis impactos gerados pela conexões “das coisas” ou forma mais ampla do que vemos hoje através da internet. Os benefícios deste tipo de aplicação poderão ser ainda mais amplificados na medida que se identificar necessidades de melhorias de sais minerais do solo, estágio de maturação dos frutos do café, entre outras.
Da mesma forma que utilizamos o exemplo dos impactos no agronegócio, queremos convidar os leitores a extrapolarem nas suas respectivas indústrias e como a conexão de tudo à internet poderá mudá-la.
4. Conectividade, redes e mídias sociais
A revolução gerada pelo avanço das comunicações em conjunto com a disseminação de ferramentas tecnológicas apoiadas na internet e na capacidade de comunicação instantânea é algo sem precedentes na história da humanidade.
Nos dias de hoje qualquer coisa que aconteça em qualquer lugar do mundo (desde que seja um país aberto, sem controle governamental da internet e das mídias) nós ficamos sabendo em instantes, literalmente instantes, muitas vezes em segundos apenas. Tudo que é relevante propaga-se em uma velocidade impressionante.
capacidade de produzir e divulgar qualquer tipo de conteúdo, informação, notícia em qualquer meio de comunicação.
Claro que isso traz dois lados opostos neste âmbito, afinal qualquer pessoa pode produzir conteúdo bom ou ruim ou uma notícia verdadeira ou falsa. O lado ruim dessa revolução é a disseminação de uma quantidade significativa de notícias falsas e conteúdos ruins, contudo, por outro lado, os benefícios desse “empoderamento” são muito maiores do que os malefícios citados.
Agora não mais dependemos de poucos canais de comunicação, que em muitos casos, no passado, definiam o que nós “cidadãos comuns” iriamos receber de conteúdo, informações, notícias e etc.
A velocidade da mudança que as redes sociais e a internet trouxe é tão grande que algumas grandes empresas do passado simplesmente morreram, ou estão morrendo, por não terem sido capazes de se adaptar a esta nova realidade.
Vamos comparar duas grandes empresas do varejo americano. De um lado a tradicional Sears, uma das maiores redes de lojas de departamento dos EUA, que como símbolo do varejo de lojas de departamento, batizou em 1974 o mais alto prédio do mundo o Sears Towers em Chicago. Hoje o Sears está a beira da falência com um processo de recuperação judicial, com dificuldade para resolver seus problemas estruturais e principalmente com credores. O prédio de Chicago também foi rebatizado e chama-se Willis Towers.
Do outro lado está a Amazon, hoje uma gigante do comércio eletrônico, mas que durante muitos anos não gerou resultados operacionais expressivos, mas atualmente é protagonista na revolução do modelo de compras no mundo, e que inspirou concorrentes do porte, como o Alibaba na China.
Pois bem, a Sears valia em “Market Cap.” no ano de 2006 USD$ 14,3 bilhões, enquanto a Amazon, neste mesmo ano valia U$ 17.5 bi. Em 2016, dez anos depois, a Sears valia USD$ 0,9 Bi, enquanto a Amazon saltou para USD$ 474,4 Bi. Já em 2018 a Sears valia USD$ 0,3 Bi e a Amazon USD$ 726,3 Bi.
Pergunta-se, o que fez a diferença para estas empresas colherem resultados tão distintos, se ambas jogam o mesmo jogo do varejo? Porque uma perdeu 98% do seu valor de mercado e outra ganhou mais de 4.000% em valor de mercado no mesmo período?
A resposta para essas perguntas poderá estar na falta de capacidade de adaptação da Sears para o novo modelo de negócios que o varejo exige nos dias de hoje.
Talvez o modelo tradicional de lojas físicas gigantes, com muitos vendedores e auxiliares, grandes estoques nas lojas, em endereços nobres de “corredores comerciais” e que antes eram vistos com “Vantagem Competitiva”, hoje não são mais. Os custos fixos elevadíssimos com espaço físico, pessoas e estoques descentralizados, tornaram-se fardos pesados aos varejistas, dificultando essas empresas a competir contra jogadores cuja fonte de “Vantagem Competitiva” não está nestes pontos tradicionais.
Hoje as empresas trabalham com estoques centralizados, utilizando-se de soluções logísticas eficientes e com custos de comercialização baixíssimos. Comparativamente às empresas que ainda
Além dessa velocidade há um outro fato tão ou até mais impactante que está acontecendo nos dias de hoje, que é o empoderamento das “pessoas comuns”, onde é possível a qualquer um de nós a capacidade de produzir e divulgar qualquer tipo de conteúdo, informação, notícia em qualquer meio de comunicação.
Claro que isso traz dois lados opostos neste âmbito, afinal qualquer pessoa pode produzir conteúdo bom ou ruim ou uma notícia verdadeira ou falsa. O lado ruim dessa revolução é a disseminação de uma quantidade significativa de notícias falsas e conteúdos ruins, contudo, por outro lado, os benefícios desse “empoderamento” são muito maiores do que os malefícios citados.
Agora não mais dependemos de poucos canais de comunicação, que em muitos casos, no passado, definiam o que nós “cidadãos comuns” iriamos receber de conteúdo, informações, notícias e etc.
A velocidade da mudança que as redes sociais e a internet trouxe é tão grande que algumas grandes empresas do passado simplesmente morreram, ou estão morrendo, por não terem sido capazes de se adaptar a esta nova realidade.
Vamos comparar duas grandes empresas do varejo americano. De um lado a tradicional Sears, uma das maiores redes de lojas de departamento dos EUA, que como símbolo do varejo de lojas de departamento, batizou em 1974 o mais alto prédio do mundo o Sears Towers em Chicago. Hoje o Sears está a beira da falência com um processo de recuperação judicial, com dificuldade para resolver seus problemas estruturais e principalmente com credores. O prédio de Chicago também foi rebatizado e chama-se Willis Towers.
Do outro lado está a Amazon, hoje uma gigante do comércio eletrônico, mas que durante muitos anos não gerou resultados operacionais expressivos, mas atualmente é protagonista na revolução do modelo de compras no mundo, e que inspirou concorrentes do porte, como o Alibaba na China.
Pois bem, a Sears valia em “Market Cap.” no ano de 2006 USD$ 14,3 bilhões, enquanto a Amazon, neste mesmo ano valia U$ 17.5 bi. Em 2016, dez anos depois, a Sears valia USD$ 0,9 Bi, enquanto a Amazon saltou para USD$ 474,4 Bi. Já em 2018 a Sears valia USD$ 0,3 Bi e a Amazon USD$ 726,3 Bi.
Pergunta-se, o que fez a diferença para estas empresas colherem resultados tão distintos, se ambas jogam o mesmo jogo do varejo? Porque uma perdeu 98% do seu valor de mercado e outra ganhou mais de 4.000% em valor de mercado no mesmo período?
A resposta para essas perguntas poderá estar na falta de capacidade de adaptação da Sears para o novo modelo de negócios que o varejo exige nos dias de hoje.
Talvez o modelo tradicional de lojas físicas gigantes, com muitos vendedores e auxiliares, grandes estoques nas lojas, em endereços nobres de “corredores comerciais” e que antes eram vistos com “Vantagem Competitiva”, hoje não são mais. Os custos fixos elevadíssimos com espaço físico, pessoas e estoques descentralizados, tornaram-se fardos pesados aos varejistas, dificultando essas empresas a competir contra jogadores cuja fonte de “Vantagem Competitiva” não está nestes pontos tradicionais.
Hoje as empresas trabalham com estoques centralizados, utilizando-se de soluções logísticas eficientes e com custos de comercialização baixíssimos. Comparativamente às empresas que ainda estão baseadas em pontos comerciais físicos, conseguem ser muito mais competitivas em termos de preço e velocidade de respostas. Afinal aqueles produtos que elas não têm em estoque, elas intermediam a venda para os parceiros, no modelo de negócio conhecido com “Marketplace”.
Não estamos dizendo que todas as redes de lojas físicas estão condenadas a desaparecerem, pois existem muitos bons exemplos de redes de lojas físicas que conseguiram se adaptar à essa nova realidade. Aqui no Brasil temos exemplos de redes que cresceram e outras que sucumbiram. A maior varejista da Região NE chamava-se Rede Insinuante, que em 2011 juntou-se ao maior varejista do estado de Minas Gerais, Ricardo Eletro. Juntos eles deram início ao que chamaram a 2ª maior rede do varejo brasileiro “A Máquina de Vendas”. Neste ano o líder do Varejo brasileiro chamava-se “Via Varejo” que reunia as gigantes, Ponto Frio, Casas Bahia e Extra Supermecados. Esta empresa valia na Bovespa R$38 Bilhões, enquanto a 3ª maior, a Magazine Luiza Valia R$17Bilhões.
Em 2019 a Máquina de Vendas pede recuperação judicial, com dívidas superiores a 3 vezes o seu faturamento total, a Via Varejo, tem valor de mercado de R$8 Bilhões e a Magazine Luiza, rebatizada de “Magalu” vale R$57 Bilhões.
O que aconteceu por aqui? Será que guarda algum paralelo com o que ocorreu nos EUA?
A rede Best Buy de eletrônicos, conseguiu superar a entrada da internet no comércio. Claro que ela teve que adaptar-se mas a seguir apresento a comparação da Best Buy e Amazon em termos de números e explico como a Best Buy conseguiu sobreviver à era Amazon.
Vejam nos gráficos que mesmo com a queda de 2011 até 2013, ela conseguiu se recuperar no faturamento.
Nota-se que a Best Buy conseguiu superar o prejuízo gigantesco de 2011 à 2013 e apresenta inclusive lucros semelhantes aos anos antes da crise da internet, mesmo com o faturamento abaixo (vide gráficos acima)
Neste caso também vemos que a Best Buy, hoje vale mais que no passado, afinal ela está gerando um lucro igual ao do passado, mas com um faturamento inferior, isso justifica seu valor de mercado maior.
E qual foi a “mágica” da Best Buy?
Essa “mágica” pode ser resumida em 4 pontos fundamentais:
a) Garantia de preços – a Best Buy iguala seu preço na boca do caixa ao menor preço encontrado pelo cliente, onde quer que seja, em outra loja física ou virtual.
b) Esquadrão Geek – a Best Buy entendeu que o seu cliente precisa de uma consultoria para identificar qual o produto se adequa melhor às suas necessidades. Ao compreender que isso era fundamental para a jornada dos clientes, eles investiram na capacitação das equipes para que elas pudessem oferecer essa venda consultiva aos clientes, proporcionando um diferencial competitivo no processo de decisão e compra.
c) Do físico para o virtual – além de permitir que o cliente compre na internet e retire em uma das suas centenas de lojas físicas espalhadas por todo o país, fazendo com que o cliente economize no frete, ela também consegue oferecer fretes muito mais baratos desde a loja mais próxima da casa do cliente. Notem, portanto, que o que causou a bancarrota da Sears, no caso da Best Buy, tornou-se uma vantagem competitiva.
d) Redução significativa de custos e melhorias no processo – uma revisão completa nos custos, e, principalmente a melhoria nos processos fizeram com que as perdas da Best Buy caíssem dramaticamente, como por exemplo a quebra de televisões, que estão cada vez maiores e portanto, mais sujeitas à quebras das telas gigantes.
Todos estes exemplos evidenciam uma grande mudança nas fontes de “Vantagem Competitiva” na indústria do Varejo.
Se os clientes estão sempre procurando comprar onde tenha mais variedades, produtos de qualidade, entregas rápidas e pelo melhor preço, o desafio para o varejista sempre foi o “como” fazer isto melhor que seu concorrente e ainda ter margem.
No padrão do passado era primordial ser grande, para exercer o poder de compra e angariar os melhores descontos junto aos fabricantes, baseados nos volumes, e com isto obter os “melhores preços”, e por vezes até produtos exclusivos. Estar presente nos endereços de maior circulação de pessoas e construir verdadeiros “templos” para o consumo também fazia parte da regra.
Era exigido do varejista focar muito na sua equipe de compras para fazer as melhores negociações com seus fornecedores. O time de marketing deveria ter muita competência para montar as melhores vitrines e fazer as melhores campanhas de comunicação.
Isto tudo não é mais válido? Não, ele continua a ser, porém os exemplos de sucesso, aqui citados como Amazon, Magalu e Best Buy, entenderam que estes requisitos são válidos, mas não mais suficientes para ganhar o jogo.
Conhecer o cliente, digo, usar os dados sobre sua jornada desde do momento em que ele está fazendo “shopping” ou seja, pesquisando, até quando ele se detém em determinado produto e não compra ou melhor ou quando ele demonstra sensibilidade para determinado item, preço e condição de compra. Coletar estas informações e tratá-las de forma inteligente passou a ser fundamental. Esta passou a ser a fonte da “Vantagem Competitiva”.
O tema jornada do cliente é um “capítulo” à parte que será objeto de um artigo futuro.
Na Amazon os produtos não são apresentados igualmente a todos nós, bem como os preços. Eles procuram aprender o que você teria grande propensão a comprar e quanto você estaria disposto a pagar – “WTP – Willingness to Pay”
A Amazon tem entre seus produtos disponíveis a venda mais de 500 milhões de itens. Ninguém tem esta variedade. Eles têm o menor custo de logística do mundo.
Nestas empresas, conhecer, aprender, entender, testar e melhorar o modelo de negócios e oferta para os diferentes clientes é a grande fonte da vantagem competitiva. E para isto a área de marketing, agora, tem excelentes estatísticos e analistas de dados.
Portanto a revolução que veio para ficar com a internet e as comunicações, redes e mídias sociais estão mudando por completo o comportamento das empresas, consumidores e relações entre pessoas e empresas.
5. Economia compartilhada
A Economia compartilhada está calcada em três grandes tendências, sendo elas:
a) Uso em vez de propriedade = Utilizar ao invés de Possuir.
O uso em vez de posse significa que cada vez mais as pessoas, principalmente as mais jovens, estão muito mais interessadas em ter acesso aos benefícios que os produtos e serviços podem lhe trazer, do que de fato terem a posse de bens e serviços.
Um dos exemplos mais simples que todos devem conhecer é o dos automóveis. As pessoas cada vez mais querem ter mobilidade, mas não necessariamente querem ter um carro. Vejamos o aumento do valor de mercado das locadoras de veículos leves no Brasil, como Localiza, Movida e Unidas, assim como os investimentos em start-up como a “Joy car” que fornece uma solução de carro compartilhado = “Car Sharing”.
Contudo existem outros exemplos não tão populares, com por exemplo empresas que alugam equipamentos, como furadeiras, ou até mesmo vão até a casa das pessoas para fazer os furos nas paredes.
b) Redução, reutilização, reciclagem, reparação e redistribuição
Esse princípio está sustentado pelo crescimento da relevância da sustentabilidade e a preocupação com a racionalização do uso dos recursos naturais e também renováveis.
Um belo exemplo desta tendência e a empresa de roupas esportivas Patagônia, que ao vender suas roupas garantem aos seus clientes que caso alguma roupa tenha algum problema, no lugar do cliente jogá-la fora, ele poderá enviar de volta à Patagônia, e essa irá consertar a mesma e devolvê-la ao seu proprietário, sem nenhum custo.
Veja abaixo, inclusive, imagem de uma propaganda da Patagônia reafirmando esse compromisso.
c) Pessoas vivem com menos, trocam ou compartilham o que tem com os demais.
Essa é uma tendência cada vez mais forte, onde o consumo está sendo repensado, e, as pessoas estão muito mais abertas a compartilharem, conhecimentos, experiências, bens e serviços.
6. Sustentabilidade
A sustentabilidade está baseada em um tripé que é chamado de tripé da sustentabilidade, esse tripé e composto pelos seguintes elementos:
a) Ecologicamente correto.
Para que algo seja considerado sustentável, tem que ser levado em consideração os impactos ambientais e garantir que não haverão impactos permanentes ao meio ambiente.
Isso quer dizer que a natureza tem que ser respeitada e considerada tão importante como qualquer outro elemento do modelo de negócios da empresa.
b) Socialmente justo
Devolver à sociedade o que ela entregou para a organização é fundamental no conceito da sustentabilidade. Bem como ser correto com os stakeholders de fornecimento e internos da organização, no tratamento deles, remuneração, condições de trabalho ou forma com que a organização lida com cada um deles.
c) Economicamente viável
Isso significa que a conta tem que fechar. Não adianta fazer bem à natureza, respeitar a sociedade se a empresa não gerar os resultados financeiros necessários para suportar tudo isso, trazer retorno financeiro aos acionistas e ao capital investido e colocar o negócio em risco.
Contudo o suporte do tripé não é suficiente para garantir a sustentabilidade. É fundamental que além disso, as empresas tenham um sistema de governança que suporte esse tripé. Quando falamos em sistema de governança estamos falando em um sistema de regras que organizem e definam claramente até onde cada função dentro da organização tem autonomia para a tomada de decisão e responsabilidade.
Essa autonomia vai desde a simples autonomia de decidir se a empresa irá comprar um produto ou serviço que seja necessário, passando pelas definições de contratações, demissões e promoções, ajustes que se façam necessários na estrutura organizacional, passando por assinar pela empresa e representá-la formalmente junto a clientes, órgãos reguladores, entidades de classes e outros.
A figura abaixo representa exatamente esse ecossistema necessário para a sustentabilidade de uma organização:
Portanto, para que possamos dizer que uma empresa é sustentável, ela precisa estar baseada neste tripé e suportada por regras de governança que garantam que os interesses de todos os stakeholders sejam garantidos, sejam esses stakeholders internos ou externos.
7. Transformação digital
A transformação digital que as empresas, as pessoas e a sociedade estão passando, transita pela revisitação da forma com que nos relacionamos, trabalhamos, operamos e por consequência, pela mudança dos processos do dia a dia de todos.
É um erro achar que a transformação digital é simplesmente pegar um processo que já existe e digitalizá-lo. Na verdade a ideia e pegar um processo que já existe e ver como podemos transformá-lo de forma digital, ou seja, em muitos casos, refazer esse processo, transformá-lo ou até mesmo eliminá-lo.
A transformação digital está baseada em 6 “Ds” que iremos listar abaixo, conforme a figura a seguir:
a) Digitalizado – tudo digital, informações e dados com acesso fácil e exponencial. No clicar de botões do mouse e teclados de um computador conectado à internet.
b) Decepcionante, no início – o crescimento das tecnologias acontece de formato de progressão geométrica, ou seja, no início começam bem devagar, mas rapidamente crescem de forma exponencial.
c) Disruptivo – os competidores “surgem do nada” e fogem de qualquer lógica, quem poderia imaginar que o quarto da minha casa, que está “sobrando” poderia um dia competir com os hotéis da cidade?
d) Desmonetizado – o dinheiro simplesmente desaparece da equação, o que vale, muito mais do que o dinheiro, são as informações, é só vermos a quantidade de aplicativos “grátis” disponíveis por aí! Como será que o WhatsApp ganha dinheiro, se o seu uso é gratuito?
e) Desmaterializado – cada vez mais um único equipamento, atualmente o celular substitui um monte de equipamentos que eram necessários no passado. Ex. máquina fotográfica, GPS, bússola, lanterna, computador, etc.
f) Democratizado – Acesso universal a todas as pessoas para “tudo para todos”.
Finalmente a provocação que queremos deixar aqui é para que você reflita sobre essas grandes megatendências e os impactos que elas terão sobre cada um de nós, a sociedade, as empresas e o mundo.
Afinal a célebre frase do saudoso Jack Welsh, ex – CEO da GE, está cada vez mais, mais atual:
“Se a velocidade da mudança no lado de fora excede a velocidade da mudança dentro da empresa, o fim está próximo”.
Flavio Nusbaum |
Economista pela PUC-SP e pós-graduado em Marketing pela ESPM-SP. É Consultor de empresas sócio fundador da MartinBaum Consulting desde 2007, professor da FDC – Fundação Dom Cabral desde 2012 e fundador do Clube da Consultoria. Como executivo atuou em diversas empresas como Banco Garantia, Banco Iochpe, Reuters, Bloomberg, Algorithmics, Siemens e AON. |
David Zini |
Mestre em Administração de Empresas-EASP/FGV, Especialista em Design Thinking – Yale Univ. e Pós-graduado em Business Analytics, Economics e Accounting – HBS, STC – FDC, CEAG – EASP/FGV, atualmente é professor associado da FDC no programa do PAEX e monitoria comercial. Já atuou como professor no IBMEC – SP e na Planorh – FAAP. |